Por Jânsen Leiros Jr.
“Bem-aventurados os pacificadores,
porque eles serão chamados filhos de Deus."
Mateus
5:9 - JFA
“9 O amor seja não fingido. Aborrecei
o mal e apegai-vos ao bem. 10 Amai-vos cordialmente uns aos
outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros; 11
não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo ao
Senhor; 12
alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração; 13
acudi aos santos nas suas necessidades, exercei a hospitalidade;
14
abençoai aos que vos perseguem; abençoai, e não amaldiçoeis; 15
alegrai-vos com os que se alegram; chorai com os que choram; 16
sede unânimes entre vós; não ambicioneis coisas altivas mas acomodai-vos às
humildes; não sejais sábios aos vossos olhos; 17 a ninguém torneis mal por mal;
procurai as coisas dignas, perante todos os homens. 18
Se for possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens. 19
Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira de Deus, porque está
escrito: Minha é a vingança, eu retribuirei, diz o Senhor. 20
Antes, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de
beber; porque, fazendo isto amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça. 21
Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem."
Romanos
12:9-21 - JFA
Calma, calma! Eu sei que falar em pacificação numa conjuntura mundial onde
o confronto direto e o conflito armado estão na ordem o dia, soa piegas e totalmente fora de contexto. Eu sei que
as guerras nossas de cada dia têm
tomado de assalto os noticiários, nos
envolvendo em um clima de tensão e atenção. Na sequência das bem-aventuranças,
contudo, chegou a hora de falarmos da paz
como característica daqueles que marcham a caminho do reino de Deus.
Sendo essa a sétima bem-aventurança, a
paz parece não ser incluída aqui por acaso, pois ser limpo de coração (a
bem-aventurança anterior) se apresenta como pré-condição para se buscar a paz[1],
pois a sinceridade e a franqueza se mostram necessárias em um processo de
reconciliação, ao mesmo tempo que é em paz que se suporta sem medo, a
perseguição e as calúnias a que são submetidos aqueles que seguem a justiça de
Deus. Sim, é importante dar destaque às duas vertentes da paz; pacificação e
reconciliação. Dois contextos possíveis para um mesmo espírito pacificador.
Primeiro vamos ao que evita o conflito e
a contenda, a quem convencionaremos chamar de pacificador. Alguns comentadores
fazem alusão a uma provável estruturação do texto das bem-aventuranças, em que
os pacificadores do verso nove estão ligados aos mansos do verso seis. Confesso
que vejo com bons olhos essa probabilidade, dada a correlação coerente e de
sentido aplicável, uma vez que os mansos optam invariavelmente pela paz,
perseguindo sua manutenção não por covardia, mas por convicção de postura e
viver harmonioso.
Nesse aspecto, a atitude nascida da mansidão
não é aquela decorrente do temor pelo conflito em desvantagem de razão ou
circunstância. Pelo contrário, o pacificador é aquele que tem a razão ao seu
lado. Ele também possui a força necessária para subjulgar seu eventual oponente
em um confronto direto, mas ainda assim ele busca insistentemente o caminho da
paz, pelo espírito de mansidão e pela segurança que desfruta em Deus[2].
Ele não depende da luta para sentir-se sobrepujando-se a nada nem a ninguém.
O pacificador tem prazer na paz, ainda
que esta custe abrir mão de direitos ou qualquer outra vantagem que lhe seja
cabida. Mais tarde o apóstolo Paulo fará alusão a tal comportamento, ao sugerir
que devemos sempre buscar a paz com todas as pessoas, além de sempre a promover
preferivelmente, quando a nós nos couber tal opção. Afinal, Deus nos chamou à
paz[3].
Já o aspecto de reconciliação,
intrínseco ao espírito pacificador, está ligado ao papel resgatador que Jesus
exerce reconciliando a humanidade com Deus; a sua justiça. A paz é uma obra
divina e Deus é autor da paz e da reconciliação, afirmou John Stott apontando
que somente Deus poderia cruzar o abismo que nos separava d'Ele[4],
bem como somente Ele é capaz de unir povos e etnias inimigas, fazendo de tais
um só povo; o seu povo, sua igreja. Não é sem razão que Jesus é chamado o
Príncipe da Paz[5].
É importante ressaltar, sobretudo, que a
paz não é o abandono barato de um conflito iminente ou desencorajador, ou mesmo
uma rendição estratégica de quem teme o desfecho desfavorável e danoso, como já
dissemos acima. A paz tem sim um custo, e alto, assim como custou alto preço a
Jesus reconciliar a humanidade com Deus. Custou-lhe esvaziar-se de si mesmo[6],
não colocando seus próprios interesses ou conveniências, por mais nobres que
fossem, acima do plano redentor, reconciliador e pacificador de Deus. Jesus
deu-se à paz, apesar de todo o preço que isso lhe custou.
Que o Senhor nos ensine não só a gozar
de sua paz, nascida da esperança que temos n'Ele, mas a também e acima de tudo,
promovermos a paz por onde quer que passemos ou vivamos, não só construindo um
ambiente de sereno e sem conflito, mas também comunicando ao mundo a
reconciliação de Deus com o mundo, por Cristo Jesus, a nossa Paz.