Por Jânsen Leiros Jr.
“Bem-Aventurados os mansos,
porque eles herdarão a terra."
Mateus
5:5 - JFA
“1 Não te indignes por causa das
más pessoas; nem tenhas inveja daqueles que praticam a injustiça. 2
Pois eles em pouco tempo secarão como o capim, e como a relva verde logo
murcharão. 3 Confia no SENHOR e pratica o
bem; assim habitarás em paz na terra e te nutrirás com a fé. 4
Deleita-te no SENHOR, e Ele satisfará os desejos do teu coração. 5
Entrega o teu caminho ao SENHOR, confia nele, e o mais Ele fará. 6
Ele exibirá a tua justiça como a luz, e o teu direito como o sol ao meio-dia. 7
Aquieta-te diante do SENHOR e aguarda por Ele com paciência; não te irrites por
causa da pessoa que prospera, nem com aqueles que tramam perversidades. 8
Deixa a ira e abandona o furor; não te impacientes. Não te inflames, pois assim
causarás mal a ti mesmo. 9 Pois os malfeitores serão exterminados,
mas os que depositam sua esperança no SENHOR herdarão a terra."
Salmos
37:1-9 - KJA
A terceira bem-aventurança ecoa o livro de Salmos em seu capítulo 37, que é um
hino da literatura sapiencial hebreia. Mas ao acrescentar a repetição de sua essência
entre as palavras iniciais do sermão do monte, bem como incluir tal menção
entre os que choram e os que têm fome e sede de justiça, Jesus dá novo vigor às
pretensões de Davi ao dizer descansa no Senhor e espera n'Ele.
Alguns estudiosos sugerem que a
mansidão é um ato de gentileza ou de cordialidade extrema, motivado por uma
abnegação dos impulsos naturais de querer chamar a atenção para si, ou fazer
valer os próprios direitos. Tal entendimento pode ter influenciado algumas
traduções, que em lugar de manso utilizaram humildes. Mas me parece que essa
perspectiva é limitada, se utilizarmos o texto de salmo como pano de fundo, e
muito mais se contextualizarmos a expressão em meio as bem-aventuranças, exatamente como se encontra.
Seguindo a fluidez do texto, vemos que
os pobres, aqueles que se percebem carentes de Deus e de seu socorro, que se
entendem sem recursos, choram sua condição de penúria espiritual. Lamentam e
pranteiam não só como necessitados e dependentes, mas também e principalmente
porque lamentarão sempre e prantearão até o fim. Então, diante dessa condição e
encarando tal realidade, o indivíduo pode escolher; ou se rebela, tentando
tomar sobre os próprios ombros o encargo de mudar sua sorte, já que tantos
outros vivem de forma diferente, ou decide, por confiança insofismável, esperar
em Deus e em sua justiça. O manso é aquele que decide confiar em Deus e esperar
d'Ele a solução do pleito, embora se encontre em uma circunstância desfavorável.
O indivíduo olha para um lado e vê a
injustiça se prolongando em dias. Olha para outro, e vê os malfeitores
enriquecendo às custas de sua perversidade. É claro que lhe passa pela cabeça
que manter-se probo e reto pode lhe privar de uma condição melhor para si mesmo
e os que dele dependem para existir; sua família por exemplo. Mas o salmista
adverte, não inveje o homem injusto. Mais ainda. Confia e espera em Deus;
descansa. Os que esperam herdarão a terra.
Notem que essa promessa é contundente
mas conflitante, principalmente no contexto de um povo subjugado pelo domínio
romano. Receber a terra por herança, equivale a recebê-la por direito sem
precisar lutar por ela. Logo os judeus, acostumados a guerras e a se defenderem
de nações inimigas por todos os lados. O que Jesus está propondo é larguem suas
armas. Não confiem nelas para estabelecerem a pretensa justiça. Se dependem de
Deus e choram por suas sortes, dependam e chorem até o fim, sendo mansos e
confiantes de que é Ele que os fartará daquilo de que são carentes. Não reajam,
mas antes confiem.
Falar aqui em mansidão tinha como
propósito a sustentação do restante do discurso. Oferecer a outra face, caminhar
duas milhas se obrigado a uma, não são atitudes senão de mansidão. Atitudes daqueles que escolhem
ser mansos, em vez de agirem em seu próprio favor. Mais tarde Jesus irá se
oferecer como cordeiro manso ao sacrifício. Ele será manso diante da guarda que
o capturará no Getsêmani, diante do Sinédrio reunido para julgá-lo, e diante de
Pilatos que o interrogará. Por todo o seu martírio, Jesus exercerá convicto sua
mansidão, tendo em foco o propósito de Deus em tudo que ocorrerá à frente, e a
providência divina em seu socorro final. Afinal, ele será o primeiro entre
muitos que herdarão a terra.
Não é sem razão que Paulo por vezes
evidenciou a cruz como o modo de martírio de Jesus. Não que a cruz como objeto
ou modelo de execução tivesse em si qualquer distinção que a fizesse diferente
das demais. Nem o objeto e nem o modelo, pois como Jesus, milhares de outros
judeus foram executados na cruz. Em sua própria crucificação, Jesus se fez
acompanhar de outros dois executados da mesma forma, e por outras razões. Mas o
que fica evidente na cruz é a exposição da condenação, a vergonha, ou ignomínia,
como aparecerá em algumas traduções. Uma vergonha por aquilo que não lhe cabia,
uma condenação injusta pela qual nada fez de si mesmo. Antes a sofreu por mim e
por você.
Jesus exerceu a mansidão por todo
aquele evento. A cada chicotada, a cada afronta dos soldados romanos, e a cada
impropério dito pelos passantes a que não reagia, ele exercia a mansidão. Nem
mesmo diante de Pilatos, que chamou para si a autoridade de liberta-lo ou de
prendê-lo. A este Jesus respondeu mansamente que nenhuma autoridade ele teria,
se de Deus não a tivesse recebido, demonstrando claramente que não exerceria
seu poder de reação, mas entregar-se-ia irrevogavelmente ao propósito de Deus. Ele
foi obediente até a morte, e morte de
cruz[1].
A mansidão é, portanto, o ato positivo
em direção à confiança. É uma ação realizadora. Alguns podem confundir tal
esperança com um ato covarde ou de não enfrentamento do inimigo. Mas não é nada
disso. O manso é antes aquele que por confiança e esperança guerreia contra si
mesmo, para em vez de agir precipitadamente em seu favor, aguardar em Deus,
certo de seu cuidado e de sua providência. O manso não é um covarde que teme a
reação. É aquele que corajosamente espera confiante no amor de Deus. Sua
satisfação e o seu prazer está em esperar pela ação do Pai. Os mansos, sem luta, herdarão a terra.
Muito bom o texto! *Ñ é preciso nem comentar mais nada:Os mansos, sem luta, herdarão a terra.São aqueles que corajosamente esperam confiante no amor de Deus. Sua satisfação e o seu prazer está em esperar pela ação do Pai. Obgda pela explicação !
ResponderExcluirOi Rita, fico feliz que tenha gostado. E sinto-me recompensado por servir de explicação. O Senhor abençoe sempre seu coração e mente. Obrigado pelo carinho.
ExcluirUm forte abraço
Muito bem colocado!!!
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